PONTE PRETA 1 x 1 LANÚS: OS ERROS E OS ACERTOS DE JORGINHO NO DUELO
Com muita propriedade, como sempre, Eduardo Cecconi dissecou o 4-3-3 do Lanús (link abaixo) e destacou um ponto que foi fundamental para o volume de jogo ofensivo conquistado pelo time brasileiro na primeira partida das finais da Copa Sul-Americana. Cirúrgico como sempre, destacou Cecconi que o “4-3-3 do Lanús é aquele 4-3-3 À MODA ANTIGA, com pontas agressivos e trio ofensivo muito mais envolvido com as ações de ataque do que defensivas”. E a conclusão do texto foi perfeita:
- Em resumo, sem a bola o Lanús tem como princípios formar uma unidade entre linha defensiva e meio-campo, formando um bloco de 7 jogadores – com o tripé fechado pelo meio e os laterais protegendo os lados; por vezes sobe a pressão e envolve os atacantes ou nesta blitz ou no acompanhamento individual de algum adversário. E, com a bola, varia entre procurar o ataque direto para definir rápido o lance, buscando os três atacantes, e a organização ofensiva com 6 jogadores à frente, valorizando muito o centroavante e as triangulações pelos lados.
E Jorginho, estudando o adversário, com certeza percebeu a mesma coisa. Quando ainda era treinador do Flamengo, no início do ano, o ex-lateral da Seleção esteve aqui em Juiz de Fora com a equipe carioca para a disputa de alguns jogos. Após um treino tático, que antecedeu a partida contra o Campinense, Jorginho aproveitou uma pergunta para salientar que não gosta do 4-2-3-1, muito por causa da composição de espaços no meio e, sobretudo, pelos problemas de equilíbrio que o esquema enfrenta na transição defensiva.
Para superar a qualidade técnica do time argentino, que possuí um destemido e veloz toque de bola, Jorginho aproveitou-se do desapego dos ponteiros adversários na transição defensiva (que se limitavam a acompanhar os laterais) para conquistar superioridade numérica no meio de campo. E foi assim que a Ponte conseguiu ser mais contundente que o adversário, obtendo um volume de jogo ofensivo muito maior. Abaixo o painel tático da primeira etapa e a dinâmica desse 4-5-1 assimétrico da Ponte Preta:
Ponte no 4-5-1 e Lanús no 4-3-3: a equipe paulista usou um esquema híbrido na primeira etapa, mesclando 4-3-1-2, 4-3-3 e 4-4-2. Sem a bola, Rildo recuava e Fellipe Bastos buscava o flanco, montando duas linhas e desenhando em campo um típico 4-4-2 britânico. Com a bola, o time de Jorginho atacava com Rildo atuando praticamente como um ponteiro. Bastos e Fernando Bob davam suporte ofensivo vindo de trás e Elias procurava dar profundidade pela direita, além de tentar jogar mais próximo do centroavante Leonardo. Assim, na transição ofensiva a Macaca alternava o posicionamento, mesclando dinâmicas do 4-4-2 diamond e do 4-3-3. Com o trio de ataque participando pouco da transição defensiva, o Lanús perdeu o meio e propiciou para a Ponte o domínio da bola em seu campo de defesa, mesmo com a equipe paulista não marcando pressão.
No primeiro tempo, taticamente, o time de Jorginho foi perfeito. Na transição defensiva, de forma periódica, eram formadas duas linhas de quatro. Essas jogavam bem próximas, formando o bloco. Esse agrupamento, misturado com dedicação, fechou as linhas de passe do time argentino. Além da compactação, as linhas da Ponte fizeram encaixes individuais importantes na marcação. Se preocupar com a ocupação de espaços foi a maior virtude de Jorginho na etapa inicial. Tanto que a todo o momento o microfone do Sportv flagrava o treinador berrando para Rildo recompor.
Mas, Guillermo Schelotto parece ter percebido que a superioridade numérica do adversário no meio foi o fator que impossibilitou seu time de jogar. Para otimizar a composição de espaços e “brigar pela meiuca”, o técnico argentino mudou um pouco a dinâmica de seu 4-3-3, modernizando sua execução na transição defensiva. Primeiramente, voltou marcando no 4-1-4-1 com os ponteiros defendendo mais. Aos 18’, quando Jorginho colocou mais um atacante, Schelotto retribuiu colocando Ayala e copiando a falsa linha na marcação:
Na segunda etapa, tivemos várias mudanças. O Lanús voltou mais incisivo e com mais participação dos ponteiros na transição defensiva. A mudança da Ponte foi sutil, entretanto perceptível. Preocupado em levar o gol, Jorginho deixou mais nítido o 4-4-2 inglês, o que proporcionou campo ao Lanús, que passou a dominar a partida. Tendo dificuldades para marcar e não conseguido jogar, aos 12’ a Macaca levou o gol. Goltz, em cobrança de falta perfeita, fez o primeiro do duelo. Aos 18’, procurando o empate, Jorginho sacou Fernando Bob e colocou o atacante Adailton. Nesse instante, a Ponte passou a jogar no 4-2-3-1 com Elias aproximando mais de Rildo. Mas, como citado, Schelotto respondeu. Aos 23’, saiu o ponteiro Melano e entrou o meia Ayala. O técnico argentino acabou usando a mesma estratégia do adversário na primeira etapa, montando uma falsa linha de marcação na transição defensiva com Ayala se juntando à trinca de volantes. Aos 28’, o cansado Rildo deu lugar para Chiquinho, que foi jogar na direita. Assim, Adailton foi deslocado para a esquerda. A Ponte empatou aos 33’, em cobrança de falta magistral de Fellipe Bastos. Porém, o 4-2-3-1 espaçado foi presa fácil para a marcação argentina. O esquema escolhido em nenhum momento favoreceu o volume ofensivo da Ponte, que não tinha organização para conseguir agredir o adversário.
A dinâmica assimétrica e guerreira da Ponte são destaques de um time fraco tecnicamente. A compactação e a proximidade das linhas, sobretudo na primeira etapa, também chamaram a atenção. Mas, ainda falta mais pressão na busca pela recuperação da bola. Entre erros e acertos, Jorginho acabou tendo bom desempenho e conseguiu o empate. No jogo da volta, provavelmente os meias argentinos, principalmente os volantes laterais, vão querer propor mais o jogo. É hora de Jorginho montar sua estratégia para o segundo round. Abraço!
https://impedimento.org/analisestaticas/analise-pre-decisao-de-alguns-comportamentos-do-lanus/
Victor Lamha de Oliveira
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