CRUYFF E A BUSCA PELO EQUILÍBRIO
Questionado sobre a posse de bola perdida após anos contra o humilde Rayo Vallecano, Tata Martino respondeu dizendo que “não era da casa e nem holandês”. O treinador argentino deixou claro que chegou para aproveitar a base, mas não vai deixar de impor seu estilo de transições ofensivas rápidas e encurtamento dos espaços na marcação. E o técnico do Barça está correto. Já passou da hora do Barcelona renovar esse 4-3-3 e esquecer o time predominante montado por Guardiola.
A chegada de Neymar reforça a qualidade técnica do time, mas também tem gerado certa preocupação tática. Cruyff, um dos maiores ídolos da história do clube e um dos maiores responsáveis pela implantação da escola holandesa do Ajax de Rinus Michels no time blaugrana, acha que a escalação do brasileiro pode causar um desequilíbrio no sistema de marcação da equipe. E a preocupação é justamente com os duelos da Champions League, visto que no Campeonato Espanhol são raros os jogos difíceis. Abaixo a declaração do ídolo catalão:
Cruyff reforça o ceticismo sobre rendimento do Barça com Neymar
Ídolo holandês prevê problemas defensivos nas laterais do time
Ex-jogador e treinador do Barcelona, o holandês Johan Cruyff leva uma vida tranquila na cidade catalã. Dedica seu tempo a uma fundação beneficente que leva seu nome e ao futebol. Torcedor incondicional do clube espanhol e do Ajax, onde foi revelado e conquistou seus primeiros títulos, é um espectador atento de todos os jogos dos dois times e contundente em suas opiniões sobre o que se passa dentro de campo. Um dos principais críticos da contratação de Neymar quando a negociação foi concretizada, em junho, o ídolo ainda não se rendeu à boa adaptação do brasileiro no ambiente blaugrana e, em entrevista exclusiva ao GLOBOESPORTE.COM, reforçou a incerteza sobre o sucesso do camisa 11 ao lado de Messi.
- Eu nunca disse que Neymar era mau jogador. As pessoas não sabem nada da base do futebol. A questão aqui não é o Neymar, mas sim a consequência da chegada de um jogador como ele para o grupo. O Barcelona tem um estilo de jogo onde os que atuam pelas pontas são os que mais trabalham no time. Neymar não é um trabalhador como Pedro ou Tello, tem outro tipo de qualidades, e a sua chegada mexe com a base do jogo catalão - explicou o holandês.
Por causa do encaixe do brasileiro na equipe, o ídolo prevê problemas no setor defensivo do Barça.
- Quando você compra um extremo muito ofensivo, precisa de laterais defensivos. Os laterais do Barcelona sobem muito. Onde está o equilíbrio? Temos de esperar pelo decorrer da temporada para avaliar, mas, quando compro um jogador, dou conta desses detalhes. Antes de comprar um jogador, é necessário pensar na consequência da integração desse jogador no time.
Admirador de Messi, o holandês disse que a personalidade dentro de campo e o espírito competitivo do argentino fazem a diferença.
Globoesporte.com, 21 de setembro de 2013 (link abaixo)
Para o holandês, o problema inicial e talvez o maior que Tata vai enfrentar, não é o volume de jogo ofensivo, mas sim a montagem de um sistema defensivo seguro. Na opinião de Cruyff, a escalação dos dois craques no time titular vai trazer problemas estruturais para a equipe. Como ele bem colocou, os ponteiros do 4-3-3 blaugrana trabalham bastante na transição defensiva, tudo para liberar Xavi, Iniesta e Messi pelo centro. Entretanto, colocar Neymar no banco não será a melhor decisão. Martino pode modificar a estratégia dividindo bem as duas transições, obtendo qualidade e segurança.
Estreia da Champions: Barcelona 4 x 0 Ajax - Sem Alba e com Xavi no banco, Tata Martino colocou Neymar bem na beirada do campo e o deixou, assim como Messi, com campo de circulação menor. Enquanto Neymar era o responsável pelo lado esquerdo, Messi era o dono do flanco direito. Já Sánchez era o responsável pela diagonal que desmontava a defesa e abria espaço para os companheiros de ataque. Adriano ficou mais preso porque Neymar era o responsável pela profundidade na esquerda. Daniel Alves aproveitava as diagonais do chileno para mergulhar no corredor. Entretanto, Messi e Neymar jogaram muito distantes, o que não é interessante para o Barça.
No Bate Bola, Paulo Calçade mostrou o mapa de movimentação de Neymar (em amarelo) e de Messi (em vermelho) no primeiro duelo da Champions. O brasileiro jogou concentrado na esquerda, partindo para a linha de fundo e tentando a entrada da área, normalmente procurando Messi para passar a bola. Esteve na direita em raríssimas oportunidades, assim como o camisa 10 que pouco habitou o lado esquerdo. Tata praticamente dividiu o campo de atuação dos dois jogadores, ficando Sánchez responsável pelo” arrasto” da defesa. Na partida contra o Ajax, Messi finalizou quase o triplo de Neymar. E o jogador brasileiro chutou a gol quase metade do que faz na Seleção e um terço do que fazia no Santos.
A questão é que Neymar chegou também para protagonizar. Além de tirar o foco da marcação em cima de Messi, o brasileiro veio para ser uma referência técnica. Nos últimos anos de predomínio do Barça, a equipe catalã se apoiou em três lideranças dentro de campo: Xavi, Iniesta e Messi. Com o envelhecimento dos espanhóis, Neymar chegou para dividir a responsabilidade e permitir ao técnico um revezamento entre Xavi e Iniesta, o que preserva mais a transição defensiva do time.
Os prováveis adversários do Barcelona nas fases de mata-mata da Champions League, como Real Madrid, Bayern, Chelsea e Borussia, são equipes que jogam de forma aguda e sempre procurando transições velozes e agressivas. Reestruturar o sistema defensivo com mais dinamismo e encurtamento de espaço, assim como tirar a obviedade do 4-3-3, são missões que Martino não poderá ignorar se deseja subir no topo do futebol europeu. Abaixo um Barça mais equilibrado e com Neymar mais próximo de Messi:
Sugestão do Painel Tático para o Barcelona de Tata: uma variação do 4-3-3 dividindo as duas transições. Com a bola, a manutenção do reiterado desenho com Pedro de ponteiro e Messi solto no ataque com Neymar. Os dois livres e jogando próximos na transição ofensiva pode aumentar bastante o grau de periculosidade dos ataques do time catalão. Já na transição defensiva, uma falsa linha de marcação pelo meio com Pedro se juntando aos três meias. Busquets, nesse caso, ficaria mais preso para fazer a cobertura dos laterais ofensivos do time. Assim, a falta de apego de Neymar à marcação não tiraria o equilíbrio da equipe.
Depois da estreia na Champions, Pedro ganhou espaço no time e Messi passou a encostar mais em Neymar. No jogo de amanhã contra o Celtic, o argentino, contundido, não joga. Provavelmente Neymar jogará mais livre e Fábregas auxiliará mais na marcação, mesmo fazendo o falso nove na vaga do melhor jogador do mundo. A questão é a continuidade da competição. O Barça necessita de Messi e Neymar juntos para disputar o título com os maiores rivais. E a segurança da transição defensiva será o desafio de Tata Martino. Abraço!
Victor Lamha de Oliveira
Tópico: CRUYFF E A BUSCA PELO EQUILÍBRIO
Panoramas do Barça
Rai Monteiro | 30/09/2013
Quem diz que o Neymar não precisa marcar diz bobagem. Acho que o Brasileiro tem sim de ter RESPONSABILIDADE TÁTICA, hoje em dia o futebol não é só pra frente - acho que nunca foi -
Quanto a Iniesta e Xavi, no calendário brasileiro eles moreriam, lá fora eles podem jogar mais dois ou três anos em alto/bom nível.
Outro ponto, quanto a Neymar mais próximo de Messi: acredito que alargar o campo não seja uma grande alternativa para um time que troca passes rápidos e curtos.
Por fim, sobre a defesa, acho que um zagueiro precisa chegar com urgência para fazer dupla com Piqué, nas laterias Dani e Alba pode ser mantidos, porém acho que um volante mais preso seria uma boa alternativa, Busquets marca bem e sabe sair, mas Mascherano poderia ser uma opção viável. Abraços Victor Oliveira
Esperava outra coisa do Cruyff!!
Danilo Costa | 30/09/2013
Parabéns, por mais um excelente texto!!
Achei que a opinião do Cruyff era mais radical, mas na verdade só está preocupado com a transição defensiva.
"A questão é que Neymar chegou também para protagonizar. Além de tirar o foco da marcação em cima de Messi, o brasileiro veio para ser uma referência técnica. Nos últimos anos de predomínio do Barça, a equipe catalã se apoiou em três lideranças dentro de campo: Xavi, Iniesta e Messi. Com o envelhecimento dos espanhóis, Neymar chegou para dividir a responsabilidade e permitir ao técnico um revezamento entre Xavi e Iniesta, o que preserva mais a transição defensiva do time."
Neste parágrafo vc resumiu tudo sobre a posição que Neymar deve exercer no Barça. Mas continuo com a minha opinião do 4-1-2-1-2 (4-4-2 losango) com Cesc de enganche, e Neymar e Messi soltos, mais próximos e dividindo a responsabilidade de finalizar. Mudar um pouco a maneira de jogar faz bem... Com isso terá as triangulações entre os meias xavi e iniesta, e os laterais dani alves e alba, mais os atacantes... cada um com seu lado. Alves/Xavi/Messi e Alba/Iniesta/Neymar, com cesc municiando com os passes e enfiadas de bola, sem contar no triangulo formado por Cesc/Messi/Neymar. Não acho que sou Dono da verdade mas acho a melhor saída para manter o equilibrio do time com Neymar. Profundidade com os laterais e diagonais e finalizações com os dois Atacantes!!
Abraço