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BRASIL 2 x 1 CHILE: SCOLARI E SAMPAOLI TRAVAM INTERESSANTE DUELO TÁTICO
O Chile de Sampaoli empatou com a Espanha em jogo disputado na Suíça (10/09/2013) e venceu a Inglaterra em Wembley, na última sexta feira. Além dos bons resultados, a seleção chilena conseguiu surpreender os adversários com uma padronização tática pautada na intensidade. Del Bosque ficou impressionado com a entrega dos chilenos na pressão, algo praticado por sua seleção em campanhas vitoriosas. Assim declarou o comandante espanhol:
- Não nos deixaram jogar. Os chilenos se entregam totalmente. São quase “suicidas” na pressão.
Ter impressionado Del Bosque não é pouca coisa, afinal o treinador importou para a seleção o conceito de pressão sobre a bola praticado pelo Barcelona. Na Inglaterra, o meia Wilshere e o técnico Roy Hodgson também se impressionaram com a atuação da equipe chilena em Londres. O treinador declarou ter sido o amistoso uma “grande lição”. Wilshere também ressaltou o aprendizado e foi além: comparou a seleção do Chile com o Barcelona.
- Foi um jogo muito difícil. Eles jogaram como o Barcelona. A forma como eles ficaram com a bola, como saíram do campo de defesa. E quando eles não tinham a bola, pressionaram. Tornaram tudo mais difícil para nós. Mas foi muito bom para aprendermos. Eles têm um estilo diferente de diversos times que jogamos contra no passado, e teremos que lidar com isso na Copa do Mundo, especialmente com equipes sul-americanas.
O time chileno que vem jogando é híbrido taticamente, variando do 3-4-3 para o 3-5-2, assim como monta por vezes uma linha de quatro na defesa, nesse momento atuando no 4-2-3-1. Tais variações são possíveis porque Sampaoli tem dois coringas em campo: Mena e Vidal. Mena atua como um “falso lateral”, dando profundidade ofensiva e também contribuindo defensivamente. Vidal também faz o desenho variar. Quando encosta-se aos atacantes, o Chile atua no 3-4-3. Quando joga alocado à frente dos volantes desenha um 3-5-2. As variações táticas são intensas, constantes e muito bem treinadas.
Sampaoli faz sua equipe imprimir uma intensidade muito grande na marcação individual. Eduardo Cecconi fez um texto brilhante sobre o jogo do Chile contra a Espanha. Destacou que a intensidade elogiada por Del Bosque advém do sistema de marcação, sendo que este tem como referência o encaixe individual por setor. Se a dinâmica tiver concentração e dedicação, aumenta a probabilidade de se ocupar o espaço com mais velocidade, o que impede o adversário de trabalhar a bola. Abaixo, Cecconi explica o encaixe:
- Funciona assim: adversário entrou no teu setor? Encaixa nele e vai com ele até o final da jogada. Terminada a jogada, sai dele e encaixa em eventual adversário que ingressar ali, indo novamente com ele até o final da nova jogada, sucessivamente do início ao fim do jogo. Adicione a estas perseguições a PRESSÃO SOBRE O HOMEM DA BOLA e está feito o modelo de marcação.
Talvez seja esse o motivo que faz alguns jornais europeus colocarem o técnico argentino como um “revolucionário tático". Para o futebol do velho mundo, adepto da marcação por zona, entender a pressão a partir do encaixe individual é complicado. Como o sistema tem se mostrado eficaz, os olhos europeus se viraram para o trabalho de Sampaoli. Mas, como bem ensinado por Cecconi, “estes encaixes SÓ FUNCIONAM se o homem da bola estiver SOB INTENSA PRESSÃO”. Em todos os momentos.
Ontem, contra o Brasil, o argentino teve que usar seu conhecimento tático para enfrentar o escrete canarinho. Sampaoli declarou que contra a Inglaterra resolveu jogar mais tempo com o time postado com quatro na linha de defesa, mas que contra o Brasil, melhor time do mundo, ele necessitaria de três zagueiros. E foi assim que o Chile iniciou a partida, atuando no 3-5-2. Com a pressão do 4-4-2 britânico brasileiro, o 3-5-2 acabou se tornando um acuado 5-3-2 na transição defensiva.
20’ iniciais: Brasil no 4-4-2 com Neymar de ponta de lança e o Chile no 3-5-2. Com os desfalques de Vidal, Isla e Pizarro, Sampaoli temeu o time brasileiro e lançou sua equipe com uma linha mais nítida de três zagueiros, dois alas/laterais e mais três volantes. Porém, logo no início, o volante Díaz se contundiu, entrando em seu lugar o ponteiro Beausejour. A substituição ousada custou caro para o treinador do Chile, afinal seu time perdeu muito poder de marcação com Vargas pelo meio. Aos 13’, o Brasil que marcava pressão apertou e González entregou para Oscar. O meia do Chelsea deu belo passe para Hulk bater cruzado e marcar: 1 x 0 para o Brasil. O atacante do Zenit encontrou bastante espaço às costas de Fuenzalida, que não cumpriu bem suas obrigações de lateral, o que aproximou Neymar e evitou a dobra na marcação pela esquerda. Mais uma vez, no momento do gol, o Brasil tinha quatro atletas como atacantes na transição ofensiva.
Flagrante tático feito por Carlos Henrique e publicado no Grupo Discussão Tática (Facebook). Percebam a transição ofensiva brasileira com quatro jogadores no ataque no momento do gol marcado por Hulk.
Aos 22’, Sampaoli resolveu mudar o esquema e buscar o empate. Para isso, sacou o ala Fuenzalida e colocou Valdivia, desenhando um 4-2-3-1 (4-6-0) mais ofensivo e que facilitaria os encaixes individuais para o seu sistema de marcação. Felipão também mudou e remontou o 4-2-3-1 com Neymar pela esquerda, Hulk pela direita e Oscar pelo centro. A Seleção Chilena melhorou, aumentou a posse de bola, encaixou melhor a marcação individual por setor e equilibrou a partida, mas não conseguiu aproximar-se mais incisivamente do gol de empate. Com Neymar pela esquerda, mais uma vez era Oscar que realiza a diagonal oposta para cobrir a liberdade dada ao craque do time.
O Brasil conseguiu marcar e ser intenso nas duas transições por quase toda a primeira etapa. Na segunda metade do primeiro tempo, teve mais dificuldades contra a marcação chilena, mas não passou sufoco. O problema foi o excesso de bolas rifadas para o ataque, o que diminuiu a posse e o volume de jogo ofensivo da equipe. O Chile teve mais de 60% da posse de bola, mas não levou perigo. Já o Brasil marcava encurtando espaço e imprimia velocidade ao retomar, tentando aproveitar-se da lentidão da zaga adversária.
Para o segundo tempo, mais mudanças e a continuação do duelo tático entre Felipão e Sampaoli. É lógico que a qualidade técnica da Seleção abala a estrutura defensiva de qualquer equipe, ainda mais o Chile que tem retrospecto histórico bem desfavorável contra o Brasil. Entretanto, é notório que o argentino tem conseguido, com sua inteligência tática e estratégica, colocar o Chile entre as melhores equipes que irão disputar o mundial ano que vem. Abaixo o panorama tático da etapa final:
Aos 5’, Felipão tirou Jô e colocou Robinho como um falso nove à frente de Neymar, que retornou como ponta de lança, posição em que tem rendido mais pela Seleção nos últimos jogos pós Copa das Confederações. Sampaoli também modificou novamente, alocando Valdivia como um falso 9 à frente de Vargas, que fazia a mesma função que Neymar realizava no time brasileiro. Na verdade, podemos dizer que nesse momento as duas equipes espelharam o desenho e atuaram em um típico 4-6-0 da modernidade.
O Brasil retornou marcando pressão e encurtando os espaços com mais intensidade que no primeiro tempo. Outra coisa que Scolari melhorou foi a velocidade na transição ofensiva, com Neymar encontrando muito espaço na intermediária. Porém, aos 13’, Valdivia sentiu e cedeu lugar para Matias Fernández. Com ele e Vargas compondo o meio, o Chile adquiriu superioridade numérica no setor e começou a dominar a partida. Tanto que Tino Marcos, repórter da Rede Globo, flagrou Scolari comentando com Murtosa: “Perdemos o meio campo”. Assim, para retomar as rédeas da partida, o comandante brasileiro fez duas alterações: saíram Hulk e Oscar e entraram Willian e Ramires. Taticamente, as equipes permaneceram no 4-6-0. No final da partida, Felipão ainda colocou Dante no lugar de Thiago Silva e Hernanes na vaga de Paulinho.
Aos 25’, o goleiro Bravo fez uma ligação direta, Beausejour escorou e Vargas ficou livre na entrada da área para fazer um golaço: 1 a 1. Só que a equipe brasileira mostrou poder de reação e partiu para cima, conseguindo o gol da vitória aos 35’, após bela abertura de Neymar para Maicon, que cruzou na cabeça de Robinho. O atacante do Milan entrou muito bem na partida e deu enorme mobilidade ao setor ofensivo. Foi uma ótima alternativa testada por Felipão e que coloca, provavelmente, Jô e Fred na disputa por uma vaga na Copa.
A Seleção se mostra tão moderna que nosso treinador está começando até abrir mão do “camisa 9”, tão prezado em suas equipes vencedoras. Com Neymar decidindo e atraindo a marcação, a necessidade de um finalizador de ofício diminuiu, aumentando a cártula tática do nosso treinador. Aos 41’, Sampaoli colocou o atacante Munõz no lugar do volante Gutiérrez, partindo de vez em busca do empate. Mas, Scolari respondeu tirando Neymar e colocando Lucas Leiva.
Felipão declarou estar feliz porque já tem o time e o esquema tático definido, além do ótimo relacionamento profissional com Carlos Alberto Parreira. Realmente percebemos que a cada jogo a comissão técnica vai lapidando os setores e encontrando alternativas táticas, não se acomodando nos resultados positivos como Dunga fez em 2010. Felipão quer ir para a Copa com “cartas na manga” e as últimas experiências serão para esse tipo de teste. O resto está definido e bem encaminhado. Ontem, o Brasil conquistou mais um grande resultado. Abraço!
https://impedimento.org/analisestaticas/com-sampaoli-la-roja-enlouquece-os-espanhois-de-del-bosque/
https://placar.abril.com.br/materia/sampaoli-um-tecnico-muito-louco
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=559413587467049&set=gm.599765150088507&type=1&theater
Victor Lamha de Oliveira
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Bom demais!!!
André | 20/11/2013
Victor, você e o melhor analista tático do Brasil. Sem dúvidas! Sou super fã do seu site! Abraço!
Sampaoli
Rai Monteiro | 20/11/2013
Que texto sensacional do meu grande amigo! Sampaoli é um dos melhores, se não o melhor técnico da nova safra sul-americana, tem um conhecimento tático avançado. Já havia mostrado isso em sua LaU que encantou a América do Sul em 2011! As principais características do time dele são a intensidade no ataque e as variações dentro do jogo; Sua LaU tinha 3 zagueiros; ora dois. 2 volantes ora nenhum. Marcelo Diaz e Aranguiz eram os pilares de um time que Vargas definia à frente. Um imponente 3-4-3. Sampaoli é ótimo e tu é foda! Ótima texto! Abraço!